Tomé tem 80 anos. Agora recorda com tristura os anos quarenta, quando com só vinte anos teve de ir embora para o Brasil. Ele vivia numa vila muito pobre no norte de Portugal, chamada Montalegre. Lá a vida era muito dura. Havia muita pobreza, os invernos eram frios e a vila ficava isolada desde dezembro a fevereiro. A neve ocupava as terras e o trabalho do campo era impossível. As casas eram muito pequenas; não havia água nem luz, mas sim muita humidade, e nenhuma comodidade; apenas o básico para viver.
Tomé tinha oito irmãos mais novos, mas ele era o único que sabia ler e escrever. Todos ajudavam os pais em casa com as quatro vacas e os poucos animais que tinham. Porém, eram muitos para comer e não chegava com o que se ganhava do campo.
Só tinham uma muda para os domingos irem à igreja, e o resto da semana vestiam a mesma roupa velha e suja. Não havia festas nem enredos, pois quase não tinham nem para comer.
A situação era insofrível, e viu-se obrigado a emigrar. Tinha um tio que vivia no Brasil há quarenta anos. Era um dos primeiros emigrados de Montalegre, um parente muito querido que enviava artigos de necessidade básica para os meninos.
Era 1941, e um barco partia do porto de Lisboa para o Brasil. Era o único que naquele frio mês de novembro partia para a América. Lá ia Tomé com uma mala quase vazia, sem mais do que a roupa nova dos domingos, que já era velha; uma carta dos pais; e alguma coisa que lhe deram os avós, como um relógio e um pouco dinheiro para os primeiros dias. Não tinha nada, apenas a vontade dum futuro melhor para ele e a família.
No Brasil viveu com o tio dele até que conseguiu um trabalho fixo e se independizou. Depois dum tempo lá conheceu uma rapariga também portuguesa, do Alentejo, com a que namorou, casou e teve três filhos e uma filha. Teve muitos trabalhos con contratos com e sem termo, até que logrou juntar o dinheiro suficiente para criar a sua própria empresa de construção. Assim, passado um tempo, conseguiu viver com comodidade no Brasil. Os filhos estudaram e tiveram um futuro igual ao dos seus irmãos.
Voltou varias vezes nestes sessenta anos, mas só de feriado, para que as suas crianças não esquecessem nunca qual era a sua origem.
No Brasil esteve muitos anos. Agora veio para a sua terra, para respirar o ar fresco e húmido da montanha, a sua montanha, onde nasceu e se criou e onde ainda que não tinha nada, foi feliz. Recuperou a casa que fora de seus pais, e lá ficou, no lugar de onde nunca quis ir embora.
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