quarta-feira, outubro 27, 2010

A minha lembrança do Sr Fernando Pessoa


Muito bom dia para si também.

Sim senhor, é certo: eu tratei dos assuntos domésticos do Sr Pessoa por mais de cinco anos.

Há já vinte que ele morreu! Ouh, que os anos se passam rápido. Se hoje fosse um dia qualquer daquele tempo , eu andaria, nestas horas, a apanhar o elétrico para ir trabalhar à sua casa.

Coitado do Sr Fernando! O homem não era assim muito organizado. Eu tinha de arrumar o seu quarto de manhã, depois de ele se levantar. Não era madrugador, pois não. Ele gostava era de ficar na cama até tarde nos dias em que não tinha de ir trabalhar.

Ainda me lembro do ruído da porta a ranger quando abria a sua casa de manhã cedo, e o cheiro a tabaco que enchia o ar do apartamento.

A primeira visão que eu tinha era a roupa pelo chão no seu quarto e aquela sensação de desordem que havia por todo o lado. Um dia até tropecei com uma chávena de café que tinha ficado pelo chão aos pés da cama!

Assim era o Sr Fernando, muito desarrumado, mas também tranquilo e muito simpático comigo. Nunca o vi zangado. Ele também nunca mostrava desacordo com o meu trabalho. Era bonzinho.

Adelinda Figueiral, trabalhadora de serviço doméstico.

quarta-feira, outubro 20, 2010

João Alves, um luguês que se parecia com o conhecido homem da fotografia


Autor: Erik

1º ano de nível avançado


Vou apresentar um colega do trabalho que tinha em Lugo, há vinte anos. Embora eu continuasse no emprego até 5 anos atrás, ele já se tinha ido muito antes.

Este senhor, que se chamava João Alves, chegara a Lugo num verão do ano 1990, se não me lembro mal. Eu nunca teria adivinhado que ele fosse arqueólogo, até que começou a trabalhar comigo. Antes eu via-o sempre no Círculo das Artes, tomando um café, ou à noite nalgum bar, bebendo vinhos. Via-se que ele gostava de vinho. Quando estava no Círculo, sentava-se na mesa 2, e sempre estava a escrever histórias.

Passado um ano, João veio trabalhar comigo num projeto da muralha. Era uma pessoa bastante fraca e nada musculada. As pernas dele eram longas e delgadas, e tinha um andar muito caraterístico. Quando eu o via, parecia que ele ia cair. O meu camarada sempre ia com um casaco e um chapéu. Também costumava levar um laço no pescoço. Portava óculos, já que era míope. Ele gostava da roupa que vestia, mas era bastante antiga.

Era um homem solitário, não gostava de companhia, e sempre estava a escrever. Costumava passear pelas ruas de Lugo sempre com a mesma roupa. Eu muitas vezes convidava-o para beber um vinho, mas nunca queria vir comigo, sempre ia sozinho. Depois de ter colhido mais confiança no trabalho, um dia ele disse-me para ir tomar algo, e desde aquele dia estive mais tempo com ele. João era um homem tão estranho, que um dia se foi de Lugo, sem dizer nada, da mesma forma que chegou.

Eu gostava muito deste homem. Aconselho-lhe a todas as pessoas que tiverem a a ocasião de conhecê-lo, que não a percam.


domingo, outubro 17, 2010

NO DOMÍNIO DOS TEMPOS

NO DOMÍNIO DOS TEMPOS
(Constantino Sánchez Cuyar, 1ª Intermédio 2009-2010)

Ao vermos este documentário de Vítor Salvador na Escola de Línguas de Lugo, eu não pude evitar sentir uma ligação pessoal com essas tradições culturais do nordeste trasmontano que retrata o filme. Embora eu pertença a um contexto urbano, todo o acervo cultural da aldeia de Podence, no eminentemente rural concelho de Macedo de Cavaleiros, de algum jeito está a falar dos meus pais, dos meus avós, dos nossos antepassados. Logo chegam à mente as semelhanças deste Carnaval de caretos, facanitos, marafonas e foliões, com outros entrudos doutras vilas espalhadas pelo interior do noroeste peninsular, como os de Laza, Maceda, Chantada...

No documentário expõe-se um tema interessante, como é a questão de se a igreja e a ditadura tiveram qualquer influência na diminuição e quase perca das tradições que agora se tentam recuperar. O padre entrevistado no filme defende que a igreja sempre respeitou estas tradições do povo em Podence, que considera legítimas, mas igualmente diz que noutros lugares os Carnavais foram criticados e mesmo proibidos pela igreja, por causa de se produzirem neles abusos desde o ponto de vista moral. Resposta politicamente correta esta do padre, mas conhecem-se muitos casos de costumes muito similares doutras vilas e que foram criticados ou proibidos; parece difícil crer que não aconteceu o mesmo em Podence. Além disso, possivelmente a igreja viu bem como na ditadura o poder desdobrava os seus instrumentos para limitar a participação do povo nestas festas, algo que era feito de um jeito sutil, tal como expõe um dos homens entrevistados.

Os velhotes que aparecem no filme falam com saudade de como eram as coisas antes, de como viviam eles o Carnaval, e ocultam mal um certo desprezo ao que os jovens de agora tentam recuperar. Parece que cada geração vê melhor o do seu tempo que o que fazem os seus filhos ou netos. As tradições mudam, têm de mudar, como muda o mundo. Mas sempre haverá elementos transversais, duradouros, que são a verdadeira alma da tradição, que nos falam da natureza do homem, e que perduram no domínio do tempos.

domingo, outubro 10, 2010

O HOMEM DO LAÇO


Eis um texto redigido por Emílio, do 1º ano de avançado. Ele fez de conta que este homem do laço era um seu amigo de longa data...

Aquele era o homem do laço, sempre bom amigo, que perguntava pelos meus problemas, pela minha família. Ele fazia perguntas pequeninas, bocadinho a bocadinho, mas às vezes semelhava não perceber, não ouvir, as minhas palavras. Ele falava e perguntava.

No meio da conversa, quando era no passeio da Baixa, ficava quieto, arrumava o seu laço, olhando para aima da minha cabeça, e, se calhar, com um adeus, ou não, fazia o trilho de volta para a sua morada, sozinho.

Porém, era o meu melhor amigo, que se voltava para a minha solidão, com grande esforço, desde o seu mundo preto, e voltava para a solidão de que vivia quase sempre, depois de partilhar o seu tempo, a pedaços, comigo.

O meu amigo, sempre de fato, laço preto e camisola branca, visitava três vezes por ano a loja de roupa da Senhora Amaral, e três vezes por dia a adega do Freitas, mas eu não conhecia o restaurante onde ele podia fazer o almoço ou o jantar.

Na loja da Senhora Amaral só demorava um bocadinho. Apanhava o pacote com as camisolas brancas três vezes por ano, e o pacote do fato e os laços pretos uma vez. Sempre as mesmas cores, o mesmo tamanho. Onde é que faz o jantar o meu amigo?

Na adega do Freitas demorava uma hora por jornada. O Freitas conhecia o seu comportamento, que não mudara nenhum centímetro ou nenhum minuto desde havia quinze anos. O Freitas conhecia o meu amigo muito bem; e ainda mais esperto era no tipo de vinho do qual ele gostava tanto, quase tanto como o amor intenso que sentia pelo silêncio. Compridos silêncios e quietudes de uma hora de duração.

Eu, na adega do Freitas, ficava perto, no balcão, mas o meu amigo, depois de pousar o copo junto à garrafinha, já vazia, vidro perto do vidro, pagava a sua dose de vinho e saia para a rua, desaparecido e obscuro. Eu demorava meia hora, e como já tínhamos combinado, sem palavras, deslocavam-me para o passeio da Baixa, onde ele e as suas perguntas aguardavam pela minha existência e pela parte proporcional da sua. Ele, às vezes, ficava quieto, arrumava o seu laço, olhando para cima da minha cabeça...

A ARTE DO DIZER

A ARTE DO DIZER
RECITAL POÉTICO-MUSICAL NA EIO DE LUGO: Um aluno e uma aluna da Escola abriram a Sessão Poética dizendo cada um, um poema à sua escolha. Elsa Noronha, 'a guerreira da palavra' dirá um poema de um poeta da Galiza – “Libremente” de Celso Emílio Ferreira. E os diversos poetas africanos e portugueses e outros cantos irão-se sucedendo: Rui de Noronha, Noemia de Sousa, Almada Negreiros, Ovídio Martins, Natália Correia...

JÁ A SEGUIR! TUGA-LUGO-LENDO!

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APRESENTAÇÃO DO CLUBE DE LEITURA Sexta-feira, 4 de dezembro 19h30 IES OLHOS GRANDES (Feminino)

Encontro com Cabo-Verde

Encontro com Cabo-Verde
SEXTA-FEIRA 4 DEZEMBRO - 17h30 Encontro com Silvino Lopes na EOI Lugo 17H30 IES OLHOS GRANDES (FEMININO) Lançamento do livro "Rimas no deserto" e música cabo-verdiana

CAMPEONATO PLANETA NH

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Cafetaria Biblioteca de Alejandria, 6ª, 13 de novembro de 2009, às 21:30H

CONCURSO PLANETA NH

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Todos ao mesmo tempo! Escolham a sua resposta!

Lançamento do livro "Do Ñ para o NH" e Campeonato do Planeta NH

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Vem participar!

LANÇAMENTO DO LIVRO "DO Ñ PARA O NH" - 13 novembro 2009

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A malta a rir aprendendo com o Valentim!