LUGO: numa conhecida adega da cidade, desempregados resolvem gamar o Códice Calixtino e partir para a DÉCIMA ILHA DOS AÇORES. Leiam o primeiro episódio desta saga, fiada pelos alunos do básico integrado.
Elenco:
João Vieira: Curso de Direção e Administração de Empresas pela Universidade de Aveiro.
Ana Silva: Curso de Turismo pela Universidade de Évora.
Telmo Ferreira: Curso de Turismo pela Universidade de Évora.
Andreia Gonçalves: Curso de Veterinária. Pós-graduação em mamíferos marinhos pela Universidade de Lisboa.
Valéria Rodrigues: Curso de Veterinária. Pós-graduação em mamíferos marinhos pela Universidade do Algarve.
Diogo Carvalho: Curso de engenharia naval pela Universidade de Santiago de Compostela. Filho de pescadores, ele nasceu em Noia.
Eu, João Vieira, e os meus amigos - a Ana, a Andreia, a Valéria, o Diogo e o Telmo - éramos desas pessoas que, sendo jovens e desempregadas, agora decidimos mudar a nossa vida e caminhar nesta aventura, ou melhor dito, nesta loucura, que ainda nos custa trabalho a lembrar. O seu início foi uma conversa com uma mulher velha e sábia no Toiriz, uma adega de São Roque. Simplesmente lembro algumas coisas desarrumadas, que dissera a velha mulher:
“Morei em Santiago de Compostela há muitos anos porque eu me tornei freira e conheço muito bem a catedral de Santiago de Compostela, e também o livro do Códice Calixtino. Nele há um prego dobrado com o itinerário que seguiu São Brandão na sua viagem às ilhas dos Açores.”
“É pena, com a crise económica, que em vilas pequeninas roubem os sinos, os desenhos, os cálices, e tudo aquilo que pode vender-se, porque a gente tem de dar de comer aos seus filhos. Hoje em dia o país não está bem, o que vocês têm de fazer é teimar na procura de trabalho e não andar a roubar ninguém. Teimem em procurar trabalho no país ou montem um negócio, e se não há sorte, viajem longe se for necessário. Não fiquem quietos jamais.”
“Até agora, por sorte, ninguém roubou nenhuma coisa da Catedral de Santiago. Imaginem, por acaso, que roubam o incensório, ou o Códice Calixtino. Eu ficaria espantada, não acreditaria. Além disso, saibam que não todas as pessoas podem olhar para ele porque quem tiver mal coração não poderá apanhar o livro. O Códice fica debaixo dos pés do Apóstolo Santiago, que pesa dois mil quilos. Apenas as pessoas com bom coração podem mover ao Apóstolo e ler o livro. E mais uma coisa: se alguém aproveita a ocasião de ler o livro quando outra pessoa diferente foi a que moveu o Apóstolo e não tem bom coração, simplesmente verá folhas em branco.”
“O Códice Calixtino tem um enorme poder, realmente, o livro escolhe o seu dono e apenas ficará em boas mãos. O livro partilha o seu poder com a gente de bom coração, e depois dum tempo vai embora para ajudar outra pessoa.”
“Sem dúvida, nós somos de bom coração, mas precisamos dum trabalho para ter dinheiro. Se calhar, poderíamos apanhar o livro esse”, disse a Ana a sorrir.
“Como escolhe o livro o seu dono?”, perguntei eu.
“Nenhuma pessoa sabe de antemão”, respondeu a velha. “Eu, em criança, morava no Cebreiro, e fiz o Caminho de Santiago desde ali com os meus pais. Éramos uma família muito humilde e queríamos pedir ajuda ao Apóstolo Santiago. Ao longo do caminho fomos pedindo o Pão-por-Deus em todas as casas. Ao chegar à Catedral, rezamos ao Apóstolo e deixamos o embrulho do Pão-por-Deus aos pés dele. A seguir, apanhou-nos de surpresa mover o Apóstolo e dar uma vista de olhos ao livro. Foi então que vimos o itinerário pregado de São Brandão. Contudo, perto de nós havia dois homens que estavam a dizer que não tinha nada escrito e que as folhas estavam em branco. Nesse momento eu fiquei a pensar sem entender; se calhar eram cegos. Tempo depois, um dia, eu já era freira, falando com uma parceira, vim a saber que o livro apenas pode ser lido por pessoas de bom coração e espírito. Ela conhecia os dois homens porque iam todos os anos a Santiago de Compostela no mês de Junho, coincidindo com as Festas Patronais da Ascensão. Aqueles dois homens moravam à beira do Caminho de Santiago, em Guitiriz, e jamais deram o Pão-por-Deus aos peregrinos. Por isso não podem ler o livro”.
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