ATRAVESSANDO O TEJO
Quando o dia amanhece e o sol ilumina o rio que banha Lisboa, lembro-me da sorte de viver ao lado de um grande fenómeno da natureza e meio de vida de muitas pessoas.
Todos os dias tenho de apanhar um barco que me leva à capital desde o outro lado do rio. Lá trabalho eu, numa fábrica de azulejos, com mais de duzentos anos de tradição. Nas curtas viagens de ida e volta, fico a pensar no decurso dos anos, nas pessoas que vão comigo no barco, nos meninos e nos idosos; e também nas pessoas que já não estão, como os meus avós.
Às vezes, penso em como seria a minha vida se pudesse estudar como na atualidade, com todas as facilidades que a gente nova tem. Mas eu não pude; tive de trabalhar com doze anos para ajudar os meus pais e os meus irmãos.
Quando comecei a trabalhar, pelos anos sessenta, Salazar governava Portugal, por meio de uma ditadura. Semelhava que quando aquilo acabasse o país ia acordar. Porém, outros acontecimentos guiaram os cidadãos para governos que não fizeram bem as coisas; que investiram na banca privada e nos grandes empresários, enquanto que o não fizeram na inovação e novas energias ou tecnologias.
Agora, os meus filhos, com várias licenciaturas, não têm onde trabalhar; os meus pais, que pagaram juros toda a vida, não recebem bastante para viver, e os políticos investem em armas e na Igreja, mas entretanto, reduzem os investimentos em educação e saúde. Isto dá-me muita tristura, porque vejo que os meus netos terão de emigrar em vez de trabalhar no país que lhes pagou as bolsas. Assim, o país empobrece.
Então fico a pensar...quando estivemos pior? Dantes ou agora? Já não sei o que fazer para os ajudar. Vou às greves quando há, e perco o meu salário, mas lá, não vejo juventude a protestar, apenas pessoas já idosas e algum sindicalista. Então, não se importam do que ocorre? Eu acho que a cidadania está tão desesperada...que já prefere ficar em casa, porque isto só o podem solucionar os políticos, que são os que modificam as leis, incrementando os juros aos ricos, aos bancos e às empresas, e eliminando o dinheiro que o estado dá à igreja e ao exército.
Teria tantas coisas que dizer..., mas é um quarto para as nove. Já cheguei a Lisboa, e tenho o tempo justo para tomar um galão e umas tostas antes de entrar na fábrica. Amanhã continuo a escrever.
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