quinta-feira, abril 26, 2012


Um muito obrigado à Maryluz Otero do Avançado 1 por nos deixar ler um bocadinho do seu caderno de viagens pelo Brasil.
São Paulo, oba !!!
Beleza, cara... 


 


CHAMAM-ME DE DONA IVONE.
Ainda bem que acordei com tempo suficiente para aperceber-me de que, mais outra vez, a tragédia prometida durante o sono não se tornou realidade. O meu parceiro de viagem espatifado no chão do avião durante a aterragem de emergência, destripado e aleijado de por vida sem remédio. Eu fico lá, estagnada e muda, enquanto o médico de serviço deita um lençol branco sobre o cadáver, e fala qualquer coisa quanto a hora do óbito.
Tudo bem!, penso. Após trinta anos de carreira, não consigo que os nervos prévios ao dia do concerto sumam... Ainda bem!
Carrego com o meu colega até à saída. Os dois somos cumprimentados pela hospedeira de bordo. Ele fica calado dentro do seu estojo de violino. Eu respondo:
-Merci! - como a minha mãe me ensinou, se bem que ela não seja brasileira mas francesa, e conquanto agora me encontre na cidade de São Paulo e não em París. Ainda bem que reparei! Agora é só pegar na minha mala e, logo a seguir, apanhar um táxi até o Teatro Municipal.
O taxista trava o carro perante um edifício de estilo inglês, com um grande relógio. A Estação da Luz. -Bonito, né?- diz ele. Ainda bem que não estamos em Londres! Já na Avenida de Ipiranga o homem aponta para um enorme arranha-céus. - Alto, né?- fala.- O edifício Itália, um ícone da cidade! - Última parada: Praça Ramos Azevedo. Pago a corrida e entro, atrassada, no hall do Teatro. As pinturas do teto, os vitrais, mesmo o vermelho do estofo das cadeiras... tudo muito requintado; alguém apurou-se em que a imagem da Ópera de París estivesse presente com apenas uma vista de olhos...
Tudo a postos?...O ensaio foi ótimo e não demorou muito, o tempo necessário para que a minha barriga começasse a dar horas, e a minha mente imergisse na ementa do Café do Teatro antes de a ter nas mãos. A garçonete aproxima-se da minha mesa. É uma mulher alta, de cabelo encaracolado e um sorriso doce e branco de comercial, que destaca sobre a sua pele negra. Não mais de cinquenta anos, ela; e no mínimo dez, os seus sapatos de salto azuis cor-de- mar. O burburinho da sala cessa antes de que possa pedir as coxinhas de frango picantes. Três moleques armados entram e fico no chão.- Ninguém se move, valeu?- Começo a ser consciente do assalto quando, baixinho, a garçonete que caiu perto de mim me diz:
-Qual é o seu nome?- Juliette, respondo.
- Eu sou a Berenice, embora todos me chamam de Dona Ivone, diz que sou parecida com a cantora, sabe? Um dos rapazes dá uma pancada ao primeiro violoncelista, e quase ao mesmo tempo começo a lembrar... Lembro quando ganhei a minha vaga na orquestra, e fui eleita entre mais de duzentos candidatos do melhorzinho dos conservatórios da França. Foi o dia mais feliz da minha vida..., depois do nascimento do meu Guillaume, claro. Dona Ivone lembra seu primeiro dia de trabalho no Teatro com dezassete anos, e o rosto do seu pai enquanto ela segurava sua mão para deter o soco antes de ir embora. Foi o dia mais feliz da sua vida..., depois do nascimento do seu filho João, claro. Recorda-se também de um esposo que sumiu numa garrafa de uísque nalgum boteco de SP, e eu doutro que sumiu nos braços de uma flautista de vinte e tal, de nome Céline. Dona Ivone faz pedidos a um tal Ogum; e eu penso num mar em calma, e num bosque cheio de pássaros, e no vento que zoa lá fora, e em por que diabo eu teria pago tanto dinheiro ao meu psiquiatra por umas terapias de merda que não servem para nada...! Umas sirenes ouvem-se na rua.
-Ainda bem que a polícia já chegou, a gente se salva, fique tranquila! -comenta Dona Ivone. Os rapazes falam entre eles, mas não consigo perceber bem. -Os homens vão atirar, vam´embora! -Hesitam um momento, aproximam-se da porta, e um barulho de balas e vidros envolve tudo...
Três corpos ensanguentados ficam à entrada do edifício. Cinco policiais a suar em bicas, retiram mais outro numa maca, dantes da chegada dos médicos-legistas. Os homens deixam-na no chão para recuperar o fôlego. Ainda bem que um lençol branco garante a intimidade do corpo! Apenas uns sapatos azuis cor-de-mar ficam à vista.
No noticiário o jornalista Filipe Silva interrompe a emissão para ligar com a repórter Ana dos Santos.
-Mais outro exemplo da violência dos nossos dias, Filipe!... Três homens muito bem armados entraram no Teatro Municipal hoje de manhã, retiveram as pessoas que lá estavam e mesmo espancaram várias delas, que precisaram assistência médica. Dada a perigosidade dos assaltantes e a sua negativa a se renderem, a Polícia Militar de SP viu-se obrigada a abrir fogo. Os malandros caíram abatidos pelas balas, porém não foram só eles. Conquanto até o momento a informação seja confusa, Filipe, pudemos saber que uma mulher, funcionária do Teatro, também resultou morta...
-Ok Ana, se houver alguma novidade...
-Desculpa Filipe..., é mesmo agora que conhecemos a identidade de uma nova vítima. É uma mulher, loira, de uns cinquenta anos e nacionalidade francesa. Ao parecer, era pianista de profissão, muito celebrizada no seu país. Sem dúvida, uma grande perda para o mundo da Música...









quarta-feira, abril 18, 2012

Nossa! Como a EOI Lugo cheira ainda a Lisboa!

Leiam este texto de Saleta, do básico integrado das 20h30. Foi imaginado no cacilheiro das 20h30, entre Almada e Cais do Sodré, a 30 de março. Com ele abrimos a nossa série de Pensamentos de Cacilho. Não há Arial, nem Times New Roman nem Verdana disponível para tanta saudade.

ATRAVESSANDO O TEJO

Quando o dia amanhece e o sol ilumina o rio que banha Lisboa, lembro-me da sorte de viver ao lado de um grande fenómeno da natureza e meio de vida de muitas pessoas.

Todos os dias tenho de apanhar um barco que me leva à capital desde o outro lado do rio. Lá trabalho eu, numa fábrica de azulejos, com mais de duzentos anos de tradição. Nas curtas viagens de ida e volta, fico a pensar no decurso dos anos, nas pessoas que vão comigo no barco, nos meninos e nos idosos; e também nas pessoas que já não estão, como os meus avós.

Às vezes, penso em como seria a minha vida se pudesse estudar como na atualidade, com todas as facilidades que a gente nova tem. Mas eu não pude; tive de trabalhar com doze anos para ajudar os meus pais e os meus irmãos.

Quando comecei a trabalhar, pelos anos sessenta, Salazar governava Portugal, por meio de uma ditadura. Semelhava que quando aquilo acabasse o país ia acordar. Porém, outros acontecimentos guiaram os cidadãos para governos que não fizeram bem as coisas; que investiram na banca privada e nos grandes empresários, enquanto que o não fizeram na inovação e novas energias ou tecnologias.

Agora, os meus filhos, com várias licenciaturas, não têm onde trabalhar; os meus pais, que pagaram juros toda a vida, não recebem bastante para viver, e os políticos investem em armas e na Igreja, mas entretanto, reduzem os investimentos em educação e saúde. Isto dá-me muita tristura, porque vejo que os meus netos terão de emigrar em vez de trabalhar no país que lhes pagou as bolsas. Assim, o país empobrece.

Então fico a pensar...quando estivemos pior? Dantes ou agora? Já não sei o que fazer para os ajudar. Vou às greves quando há, e perco o meu salário, mas lá, não vejo juventude a protestar, apenas pessoas já idosas e algum sindicalista. Então, não se importam do que ocorre? Eu acho que a cidadania está tão desesperada...que já prefere ficar em casa, porque isto só o podem solucionar os políticos, que são os que modificam as leis, incrementando os juros aos ricos, aos bancos e às empresas, e eliminando o dinheiro que o estado dá à igreja e ao exército.

Teria tantas coisas que dizer..., mas é um quarto para as nove. Já cheguei a Lisboa, e tenho o tempo justo para tomar um galão e umas tostas antes de entrar na fábrica. Amanhã continuo a escrever.



segunda-feira, abril 16, 2012


Para imergerem na leitura deste texto do nosso caríssimo Ramiro Álvarez da turma do Básico Integrado das 16h00.

Um MUITO OBRIGADO por nos permitir sentir essa Lisboa íntima e saudosista.


Baptismo de Fado.

O que fazer?

Domingo de noitinha com as saudades todas da viagem, as da já feita e as da por fazer; as da viagem pelos caminhos tortos da vida, as dos caminhos errados que não têm volta, as dos que não se colheram e as dos que já não resta tempo de colher. Noitinha de domingo, trovoada no céu e trevas na alma. É preciso um refúgio, fronte à chuva que se desaba, fronte as saudades que me alagam.

Eis que o localzinho me chama: “O velho páteo de Sant’Ana”. A chuva e os relâmpagos não me deixam opção e, de todos os modos, em algúm lugar hei-de jantar. Entro no páteo: luz de candeias e móveis velhos; alguma sombra nos cantinhos, flores nas mesas, silêncio no ambiente. A minha alma quer sentar-se; está muito fatigada.

Deram-me mesa ao pé do tablado; convidado de honra ou pobre saudoso a afugentar pesares. E o fado será remédio para eles? Os músicos já chegaram e aí vem a sacerdotisa do ritual, elegante vestido preto e garbosa mantilha aos ombros. A cerimónia é que vai começar.

Ai, esse timbre de guitarras de fado, esse som de violas, este vinho que reconforta, esse silêncio sobre os murmúrios das sombras e essa voz, essa voz doce e forte que enche o espaço todo. É o fado que começa.

Vielas da Alfama, amuradas de marinheiros, varinas e rosas brancas desfolhadas; gentes que partem e tempo que fica eterno. E aquela estrofe cantada com um sentimento muito especial: “Se eu soubesse que morrendo// tu me havias de chorar// por uma lágrima tua// que alegria// me deixaria matar”.

O conjuro era para mim. Obrigado, menina fadista.

E fui sombra no meu cantinho e saudade em quem sabe qual peito e candeia em todas as mesas e gemido de guitarra. E fui fado...

E a trovoada acalmou-se.

De volta de Lisboa, a 3 de abril, 2012

A ARTE DO DIZER

A ARTE DO DIZER
RECITAL POÉTICO-MUSICAL NA EIO DE LUGO: Um aluno e uma aluna da Escola abriram a Sessão Poética dizendo cada um, um poema à sua escolha. Elsa Noronha, 'a guerreira da palavra' dirá um poema de um poeta da Galiza – “Libremente” de Celso Emílio Ferreira. E os diversos poetas africanos e portugueses e outros cantos irão-se sucedendo: Rui de Noronha, Noemia de Sousa, Almada Negreiros, Ovídio Martins, Natália Correia...

JÁ A SEGUIR! TUGA-LUGO-LENDO!

JÁ A SEGUIR! TUGA-LUGO-LENDO!
APRESENTAÇÃO DO CLUBE DE LEITURA Sexta-feira, 4 de dezembro 19h30 IES OLHOS GRANDES (Feminino)

Encontro com Cabo-Verde

Encontro com Cabo-Verde
SEXTA-FEIRA 4 DEZEMBRO - 17h30 Encontro com Silvino Lopes na EOI Lugo 17H30 IES OLHOS GRANDES (FEMININO) Lançamento do livro "Rimas no deserto" e música cabo-verdiana

CAMPEONATO PLANETA NH

CAMPEONATO PLANETA NH
Cafetaria Biblioteca de Alejandria, 6ª, 13 de novembro de 2009, às 21:30H

CONCURSO PLANETA NH

CONCURSO PLANETA NH
Todos ao mesmo tempo! Escolham a sua resposta!

Lançamento do livro "Do Ñ para o NH" e Campeonato do Planeta NH

Lançamento do livro "Do Ñ para o NH" e Campeonato do Planeta NH
Vem participar!

LANÇAMENTO DO LIVRO "DO Ñ PARA O NH" - 13 novembro 2009

LANÇAMENTO DO LIVRO "DO Ñ PARA O NH" - 13 novembro 2009
A malta a rir aprendendo com o Valentim!